domingo, 25 de dezembro de 2011

Justino!

Justino, o telegrafista.

(Theo Padilha)

No dia 12 de dezembro de 1935, nasceu Justino, na cidade de Caçador, estado de Santa Catarina. Meu pai falava que o nome Justino, fora escolhido porque ele tinha um amigo com esse nome, que o ajudara a retirar uma lasca de madeira que havia enfiado no pé, quando era criança. Justino tinha mais um casal de irmãos que morreram. A Maura de acidente, e Mário de tosse comprida. Justino tem uma irmã mais velha que se chama Maria. Mais tarde eu cheguei. Era o ano de 1947.

Justino trabalhou inicialmente nas Casas Pernambucanas de Caçador. Mas um dia uma freguesa lhe pediu para comprar uva numa quitanda do outro lado da rua. E Justino muito prestativo correu para lá. Ele não havia pedido para ninguém. E como aquela loja era excessivamente correta, o gerente não perdoou sua saída e lhe mostrou o caminho da rua. Inocentemente, Justino chegou chorando em casa. Tinha apenas 12 anos.

Daí então ele foi trabalhar numa oficina mecânica. Tendo que parar de estudar no terceiro ano do primário. Justino era muito inteligente. Todos gostavam de sua pessoa desde criança.

Morávamos à margem de um grande rio. O famoso rio do Peixe que atravessa a cidade de Caçador. Na frente a ferrovia e nos fundos o rio. Era muito gostoso. Vivíamos pescando. E nas horas de folga nosso pai nos levava para nadar. Só minha mãe não entrava na água. Era bonito ver o papai, o Justino e a Mariazinha, nadando na parte funda do rio. Éramos felizes, apesar dos goles de meu pai. Meio poeta, recitava suas poesias nos botecos da cidade. Uma poesia que meu pai guardou para sempre, era o Noivado do Sepulcro, de Augusto dos Anjos. Era só beber e já começava a recitá-la. Fui conhecer essa poesia, muito mais tarde, quando fazia a faculdade de letras em Jacarezinho-PR. Depois viemos para Siqueira Campos - PR, onde meu tio Jorge era chefe de estação. E meu pai foi promovido de turmeiro para guarda-chaves da RVPSC. Justino agora com 16 anos começou a praticar o telégrafo com o tio. E depois acabou sendo telegrafista. Tendo trabalhado em várias cidades do norte paranaense. Lembro-me que ele sempre me trazia Gibis. Atendendo meus hieróglifos nos bilhetinhos. Justino não mais estudou, mas escrevia muito bem. Chegou a escrever para uma revista muito lida no meio ferroviário era o Correio dos Ferroviários. Sempre muito elogiado por todos.

No ano de 1956 fomos para a estação de Conselheiro Zacarias. Ali meu pai e Justino trabalharam juntos naquela pequena estação. Logo Justino se casou com Edinéia Bacon, filha de um sitiante da região. Desse casamento nasceram, Dulcineia, Julio Cesar e Lucimara. Moraram num posto ferroviário chamado Pederneiras. Justino trabalhou muito tempo em Marques dos Reis. Nas horas vagas ele gostava de pescar. E o rio Paranapanema era sua área. Nadava muito bem. Agora ele era chefe de estação.

Ele saía de uma festa de aniversário ou Natalina e já ia para o rio ver suas redes. Eu achava engraçado porque ele ia de terno ver suas redes. Sempre quando eu ia lhe visitar ele me levava para Ourinhos e comprava tudo novo para mim na cooperativa dos ferroviários. Ele tinha muitos amigos em Ourinhos. De Marques dos Reis tenho muitas histórias. Vou contar uma apenas. Havia um clube do outro lado do rio que era aberto para os ferroviários. Lá havia de tudo. Piscinas, quadras para futebol, etc. Um dia Justino tentando imitar o Tarzan, subiu numa árvore e pulou de ponta na parte rasa do rio Paranapanema. Ele desmaiou, quebrou alguns dentes e foi levado às pressas para a Santa Casa de Ourinhos. Quase morreu. Mas ele tinha uma cabeça de ferro.

Outra história interessante foi a do churrasco. No final do ano tantos os fiscais, que eram muitos, como os ferroviários se revezavam dando festas para os amigos de Marques dos Reis. Havia festas durante todo o mês de dezembro. E Justino resolveu dar uma festa no seu aniversário. Dia 12 desse mês. Ele convidou uns amigos, mas não calculou o número de pessoas. E foi chegando tanta gente que viram que aquela carne não daria. Então alguns brincavam. “Muito obrigado Justino, eu vou jantar depois eu volto para a festa!” Justino pagou esse mico.

Um dia a Sociedade Esportiva Palmeiras foi jogar em Ourinhos. Então Zelão e Justino foram até Ourinhos buscar o Djalma Santos do Palmeiras para uma visita a Marques dos Reis. E o famoso zagueiro foi até a casa de Justino. Foi uma festa no patrimônio.

Logo depois veio a separação, Justino ficou só com o casal de filhinhos. E vivia bebendo e cantando a música de Moacyr Franco, que falava do Garrincha. Balada número sete. Aí ela começou sua decadência. Ele era muito novo ainda. Começou a beber e acabou voltando para a nossa casa em Joaquim Távora. Não demorou muito ele se casou com uma mulher que dizia que gostava dele desde criança. E foram morar juntos. Justino havia feito o primeiro divórcio da cidade de Cambará. Essa mulher foi fazendo sua cabeça para que ele fizesse um acordo com a RVPSC. Ele pegou uma boa quantia de indenização. Acabou comprando uma mercearia em Nova Brasília. Ali comprou um Jipe. Como não sabiam dirigir acabaram se chocando com um poste, quase morreram os dois. No final essa mulher acabou fugindo com um caminhoneiro e levou parte de seu dinheiro. Ele ainda pode comprar um chevete do ano. Mas arrependida a mulher voltou. Ele acabou perdoando essa mulher. Então ela levou o resto do dinheiro. Justino acabou sem nada. Minha mãe era muito pobre e teve que sustentar o seu vício. Foi internado em Marília-SP, mas não adiantou. Assim que o tiramos de lá começou a vender tanques para lavar roupa na região, juntou um dinheirinho e voltou a beber. Caiu na mendicância. Não mais conseguiu se levantar. Mesmo ajudado por muitos amigos. Idair, Ivair, José Vicente, Jairo, mas não adiantou nada. E um dia ele caiu morto no centro da cidade. Infarto do miocárdio. Morreu com 48 anos. Foi uma pena.

Joaquim Távora, 11 de outubro de 2011. Copyright by Theo Padilha©.

Maldição

MALDIÇÃO

OLAVO BILAC

Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
Hoje, velha e cansada de amargura,
Minha alma se abrirá como um vulcão.

E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão…

Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!…