sexta-feira, 25 de maio de 2012

Mocidade e Morte - Castro Alves

Já fiz um post neste blog sobre o poeta Castro Alves. Eu dizia sobre a dificuldade de definir sua obra em apenas uma face, já que ele escreveu belos poemas líricos, muito poemas libertários e também poemas cercados por um pessimismo característico do Romantismo de Lord Byron e Musset. O "Poeta dos Escravos" cantava temas nacionais e coletivos, mas, como bom romântico, cultivava o egocentrismo e seus problemas sentimentais. O poeta baiano cuidava de denunciar as injustiças ocorridas em solo brasileiro, mas também buscava inspiração nos moldes franceses e ingleses.
Sentindo a angústia da morte próxima ainda na juventude, Castro Alves via-se cada vez mais próximo de partir deste mundo deixando nele as delícias de uma vida boêmia e de um futuro promissor nas artes literárias. Tal situação rendeu um poema intenso e extremamente pessimista, no qual sentimos a dor do jovem que se depara com uma partida indesejada e precoce.
Um poema, em especial, define o que eu digo, a começar pelo título;


Mocidade e morte
Oh! eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh'alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n'amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
— Árabe errante, vou dormir à tarde
A sombra fresca da palmeira erguida.
Na primeira estrofe temos o boêmio deslumbrado, que sente perder as delícias da paixão ao lado da mulher amada. mas há um estribilho:

Mas uma voz responde-me sombria:
Terás o sono sob a lájea fria.

Ele iria, então, trocar o leito de amor pela lájea fria de um sepulcro.
Há sempre a oposição: A vida que é prazerosa e a Morte que, para Castro Alves, não é bem vinda.

Morrer... quando este mundo é um paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher — camélia pálida,
Que banharam de pranto as alvoradas,
Minh'alma é a borboleta, que espaneja
O pó das asas lúcidas, douradas ...
Mais uma vez temos o apego do poeta à vida e aos prazeres que ainda estão por vir nos braços da amada.
Mas, novamente, ele constata:

E a mesma voz repete-me terrível,
Com gargalhar sarcástico: — impossível!
Era a morte que ria dos seus sonhos de vida.

Eu sinto em mim o borbulhar do gênio,
Vejo além um futuro radiante:
Avante! — brada-me o talento n'alma
E o eco ao longe me repete — avante! —
O futuro... o futuro... no seu seio...
Entre louros e bênçãos dorme a glória!
Após — um nome do universo n’alma,
Um nome escrito no Panteon da história.

Na terceira estrofe temos o apego do poeta à glória futura, furto de seu talento e de seu ardor como literato. É mesmo triste pensar quantas obras poderiam ter sido escritas por Castro Alves se ele tivesse uma chance de prolongar seu tempo na Terra.
Mas a morte novamente lhe responde:

E a mesma voz repete funerária:
Teu Panteon — a pedra mortuária!
Morrer — é ver extinto dentre as névoas
O fanal, que nos guia na tormenta:
Condenado — escutar dobres de sino,
— Voz da morte, que a morte lhe lamenta —
Ai! morrer — é trocar astros por círios,
Leito macio por esquife imundo,
Trocar os beijos da mulher — no visco
Da larva errante no sepulcro fundo,
Na quarta estrofe, o poeta mostra mais uma vez a oposição entre as belezas da vida e a trieteza da morte, vista como o fim de tudo.
Só lhe sobraria então:

Ver tudo findo... só na lousa um nome,
Que o viandante a perpassar consome.

E eu sei que vou morrer... dentro em meu peito
Um mal terrível me devora a vida:
Triste Ahasverus, que no fim da estrada,
Só tem Por braços uma cruz erguida.
Sou o cipreste, qu'inda mesmo florido,
Sombra de morte no ramal encerra!
Vivo — que vaga sobre o chão da morte,
Morto — entre os vivos a vagar na terra.

Na quinta estrofe temos a certeza do poeta de que vai morrer, ele é o cipreste que, mesmo florido, carrega a sombra da morte.
E novamente ele escuta:

Do sepulcro escutando triste grito
Sempre, sempre bradando-me: maldito!

E eu morro, ó Deus! na aurora da existência,
Quando a sede e o desejo em nós palpita..
Levei aos lábios o dourado pomo,
Mordi no fruto podre do Asfaltita.
No triclínio da vida — novo Tântalo
O vinho do viver ante mim passa...
Sou dos convivas da legenda Hebraica,
O estilete de Deus quebra-me a taça.

Na sexta estrofe temos, novamente, a dor do poeta e a constatação de que a partida será muito cedo, antes do que deveria ser.
A agonia extrema é expressa em:

É que até minha sombra é inexorável,
Morrer! morrer! soluça-me implacável.

Adeus, pálida amante dos meus sonhos!
Adeus, vida! Adeus, glória! amor! anelos!
Escuta, minha irmã, cuidosa enxuga
Os prantos de meu pai nos teus cabelos.
Fora louco esperar! fria rajada
Sinto que do viver me extingue a lampa...
Resta-me agora por futuro — a terra,
Por glória - nada, por amor — a campa.


A última estrofe é mesmo o fim, a despedida, as recomendações para os que ficam.
O poema tem um desfecho dramático:

Adeus... arrasta-me uma voz sombria,
Já me foge a razão na noite fria! ...

Agora, me respondam, Lord Byron ficaria ou não orgulhoso?





3 comentários:

  1. Muito obrigado pela ajuda,e como você disse Castro Alves sempre sera marcado na hora que se falar de Romantismo.
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  2. Ótima análise do texto!
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  3. Se Lord Byron ficaria orgulhoso eu não sei,eu sei que a segunda geração do romantismo é conhecida como byroniana,influenciada pela poesia de Lord Byron e o principal poeta foi Álvares de Azevedo já Castro Alves pertenceu a terceira geração conhecida como condoreira ou hugoana,influenciada pela poesia de Vitor Hugo e o principal poeta foi Castro Alves.
    Responder

 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

TUBINHO


TUBINHO

PENSA QUE É PALHAÇO
HÁ VINTE ANOS VIVE ASSIM
UMA GRAÇA AQUI
UMA RISADA ALI
SUAS CARAS E BOCAS
A TODOS EMOCIONA
FAZ DE MINHA GARGALHADA
UMA PALHAÇADA
FAZ DE MINHA CIDADE
UM RECANTO DE FELICIDADE
FAZ RIR EM QUALQUER IDADE
FAZ O CORAÇÃO BATER MAIS FORTE
A CADA CENA
OS OLHOS BRILHAREM A CADA ATO.

Parabéns pelo seu aniversário, que a vida lhe dê um milhão de vezes a felicidade que você nos proporciona.
LAUREN CHRISTIE, 07/02/2003

terça-feira, 3 de abril de 2012

Amanhã você vencerá!

Amanhã você vencerá!


Theo Padilha

Vida

Prantos de dor

Total aconchego

Noites de insônia

Lágrimas de amor

Mil carinhos

Sábios conselhos

Orações

Por tudo isso

Obrigado, Mamãe!

Joaquim Távora, 3 de abril de 2012.

domingo, 1 de abril de 2012

DÁDA...

DÁDA...

Theo Padilha

Dáda é como eu chamava Maria, minha única irmã viva. Éramos três. Dáda nasceu na cidade de Caçador-SC. No dia 25 de janeiro de 1937. Eu era o caçula, havia um outro irmão, Justino; já falecido. Meu pai era ferroviário e se mudava muito, talvez por isso que ela não pode continuar os estudos. Para mim ela era muito bonita. Descendente de índios, ela tinha uma bela cabeleira negra. Que ornava a sua beleza.

Apesar de brigarmos muito eu sempre a acompanhava nos passeios. Aos domingos toda a família ia nadar no rio do Peixe, na cidade de Caçador. Só minha mãe ficava na margem. Éramos todos bons de nado. E seguíamos nosso pai nas braçadas.

Quando eu tinha seis anos mudamos para Siqueira Campos. Era nosso costume ir às matinês do cineminha da cidade. Até a Dona Osvaldina Padilha de Souza, minha mãe, ia conosco. Quando íamos até o centro da cidade de Siqueira Campos, que era longe da estação ferroviária onde morávamos, ela costumava me levar a uma sorveteria dos Garanhani para tomarmos sorvete. O dono era meu pseudo cunhado, e nós não pagávamos sorvete. Minha mãe nem sabia.

Certo dia meu pai havia bebido uns tragos e ficou agressivo, apanhávamos muito do velhinho. Ele correu atrás da Dáda para lhe bater e esta lhe deu uma martelada no nariz, que o coitado ficou com o nariz torto até o final da vida.

Um ano ou dois depois nos mudamos para o distrito de Conselheiro Zacarias, ali comecei meus estudo numa escola pública, minha primeira professora ainda mora lá em frente à escola. Meu pai está enterrado ali perto da escola.

Em Zacarias Maria conheceu o seu único marido, Osvaldo Bonfá. Um italianinho do cabelo loiro cheio de brilhantina Glostora. Seus pais tinham sítio naquele lugar. Minha mãe era uma índia meio racista e não queria o namoro. Só que seus três filhos se casaram com loiros. Ela o chamava de “zóio branco”. Eles contavam que ele convidara Dáda e uma sua colega Helena (personagem de uma história minha) para colher mangas, e na verdade não eram mangas, era um abacateiro. Um dia marcaram o casamento, que foi feito na cidade de Joaquim Távora, foi todo mundo menos eu e minha mãe. Esta não gostava de sair e eu estava mal com com Dada e não fui. Foi quando apareceu o refrigerante Crush, que fiquei doente de vontade de beber. Maria teve 13 filhos. Todos nascidos lá em Conselheiro, no sítio Ribeirão Bonito. Quase todos atendidos em Santo Antonio da Platina pelo Dr. Giovanetti que era primo dos Bonfás, meu cunhado. Todo ano era comum ver o compadre Moreira da rádio platinense anunciando o nascimento da prole de Maria. Dizia o velho locutor: “Bairro Ribeirão Bonito. Maria de Souza Bonfá ganhou um menino, mãe e filha estão passando bem”. Desses treze filhos duas morreram depois de adultas, a sétima de parada cardíaca e a segunda de acidente, mas muito novas.

Osvaldo morreu e Maria vive sozinha em Wenceslau Braz onde adquiriu uma casa. Os filhos quase todos foram embora. Estão divididos entre Avaré, Jundiaí do Sul, Xavantes e Curitiba.

Joaquim Távora, 31 de março de 2012.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Marinho

Marinho, “Requiem aeternam dona eis”

Theo Padilha

Uma melancólica notícia, logo pela manhã, veio empanar o brilho dessa terça-feira. Início de verão. Marinho sucumbira a horrível doença que lhe tirou o fogo de todos os entusiasmos, o viço de todas as ilusões, a mocidade, as esperanças de glória e de seu futuro. O seu guardamento estava cheio de parentes. O seu pequeno corpo inerte havia chegado de Curitiba. Logo depois um carro de alto falantes percorria as ruas de sua cidade anunciando, tristemente, a sua morte.
Era o termo do marceneiro, com mais de trinta anos de profissão. Marinho Amaro de Oliveira. Confessamos publicamente que não tivemos coragem de ver o seu franzino corpo dentro de um caixão, construído por marceneiros. Um quadro muito triste, para quem o conheceu cheio de vida.
Marinho era um grande ator. Gostava tanto de cinema. Trocamos muitos filmes. No futebol driblava como um Neymar. Sempre dizia que fora ele quem inventara o famoso “elastiquinho” usado por Rivelino. E sempre foi requisitado naquela época por todos os times tavorenses.
E na sinuca então, foi campeão muitas vezes desse jogo. Ele era muito bom mesmo.
Também no jogo de truque era magistral. E todos os parceiros o queriam do seu lado.
Sempre achamos divertida a observação que fazia dos amigos. Vivia observando o comportamento dos amigos. Se uma pessoa contava um causo. Um nosso amigo respondia. “Lá minha cidade era assim também.” Ele nos olhava com malícia tentando mostrar o deslize.
Às vezes era muito cômico. Um ator como já falamos. Certa vez ele apareceu no bar arrastando um galho de árvore pela avenida como se estivesse puxando um cachorrinho. Aquilo foi hilário.
E durante as partida de truque. Quando todos estavam quietos pensando na jogada, ele gritava:
─ Tião! (o dono do bar levava um susto!) me dá mais uma! - esse bordão ficou famoso por todos os frequentadores.
Marinho bebia. Só que estava muito fraco. Com duas ou três doses ele já mudava o seu comportamento. Tímido, saía do seu habitat, como o caramujo saindo da casca.
E no batuque, também era mestre. Ele sempre dava o show, era um exímio baterista. Até já havia atuado num conjunto da cidade, nos anos 60.
Aqui queremos fazer uma mesura por irreparável perda. Que sua querida mãezinha o receba com muito carinho lá no céu ao lado de Jesus Cristo. E que sua família toda se conforme desse doloroso transe. È assim a vida. Descanse em paz grande amigo, carismático. Descanse em paz “Chapolim”. E pedimos ao Criador do Universo: “Requiem aeternam dona eis!” ( Daí-lhe o repouso eterno).


Joaquim Távora, 20 de março de 2012.

sábado, 17 de março de 2012

Pobreza não é defeito - Livro: Nossas Marcas

Pobreza não é defeito


É muito difícil descrever uma casa de caipira. A minha era assim. Uma casa de brasileiro. Brasileiro mesmo, desses que moram no interior do interior. Daqueles que só vão à cidade em época de política ou pra vender queijo na festa. Desses que guardam dinheiro dentro do colchão.
Geralmente são muito simpáticos, gostam de uma boa prosa. Falam alto. Cospem no chão sem cerimônia. E não titubeiam em dizer palavrões. Dentro do ônibus é um deus-nos-acuda. Gritam como se estivessem falando, ou falam como se estivessem gritando.
─ Dia cumpadi, capô o cavalo?
Logo que chegamos às suas casas já vemos a parede cheia de santinhos e retratos. Retratos de todos os parentes em volta dos avós. Retrato de mortos dentro do caixão, de cavalos, cachorros e galinhas. Na sala, sobre a mesa uma calota de carro brilhando, como um troféu de tênis, ao lado de um vaso de flor plástica que até já perdeu sua primitiva cor. Na prateleira ou sobre a cristaleira cheia de copos de massa de tomate, vários litros de licores, com várias formas, litro mesmo, ovalado, redondo, sei lá. Cuja validade acabou. Um ou outro bebe o conteúdo e enche de água colorida. Na parede da cozinha em meio à fumaça do fogão à lenha. Vamos encontrar um pano de prato com a caricatura de um leão. Mais parecendo um cachorro magro. Em baixo uma inscrição, muito mal bordada e cheia de erros: “O LIÃO É UM ANIMAU FEROS”. Com o “S” virado ao contrário.
Quando se mudam dá tristeza de ver. Mal encosta o velho caminhão à gasolina, já vêm seus filhos querendo ajudar. Nessas mudanças existe de tudo. Metade de um pneu que é para servir de bebedouro às galinhas. Enorme lata cheia de terra empedrada, com uma planta seca no meio. (“Foi presente da Dona Maria!”). Uma velha peneira de taquara furada. A cama amarrada com arame. Enormes colchões de palhas com uma mancha amarela de urina no meio, como se fosse a Bandeira Nacional. Dois urinóis esmaltados e descascados. Chapa de fogão comida pela ferrugem. Várias panelas pretas, como se fossem de teflon. Enxadas gastas. Foices gastas. Cabos de vassouras e de enxadas. Várias varas de pescar. Rede de pesca. Uma velha espingarda de carregar pela boca. Uma gaiola com papagaio dentro quase sem pena. Depois ainda, um rebolo de pedra. Um velho pilão rachado. Muitas trouxas de roupa. As latas de guardar mantimentos, todas amassadas. Malas de fibra. Bacias de alumínio gigantes, com fundo de madeira, que serviam para lavar roupa, lavar defuntos, amassar o pão e fazer a macarronada de domingo. Um enorme torrador de café. Máquinas de costura. Grandes mesas de pau-a-pique, cadeiras com uma só perna, brinquedos etc.
A recepção na casa de um interiorano brasileiro é com um café. Este café é servido em canecas de alumínio cheia até a boca. Adoçado com rapadura. Em algumas casas a dona da casa oferece doce de mamão. Uma tigela cheiinha. Da qual você deve precaver-se. Ela lhe pergunta: “gostou?” Se a resposta for afirmativa, vai ter que comer mais.

Theo Padilha 11 de julho de 2008